Mário Moura
Colunista da Agência Rio de Notícias
01/10/2012
Pode parecer uma provocação do colunista fazer uma pergunta
dessas a poucos dias de mais uma eleição municipal. Mas veja bem, eu não sou o
único que coloca em dúvida a necessidade dessa função legislativa da maneira
com qual ela é praticada nos municípios onde vivemos, considerando o
elevadíssimo custo da democracia brasileira para manter o emprego dos chamados
representantes do povo no legislativo municipal.
Teoricamente é na Câmara dos Vereadores que os munícipes têm vez e voz através desses representantes. Teoricamente. Na prática, as demandas da população na maioria das vezes são ignoradas pelos vereadores, que custam caro pelo pouco que produzem, especialmente nas casas legislativas das pacatas cidades do Interior do Estado, onde por lá aparecem apenas duas vezes por semana. Por estas razões, mas existem muitas outras, a gente observa que nas Câmaras Municipais a ineficiência está mais presente do que nas casas legislativas das outras instâncias. Soma-se a isso o fato de a população não exercer - como deveria - uma fiscalização atenta da atuação parlamentar de um vereador. E aí é que mora o perigo.
Há aves raras nas Câmaras Municipais de todos os
municípios do Estado. É verdade. Mas são poucos os vereadores dedicados à causa
pública e que fazem direitinho o seu dever de casa. Esta minoria não se deixa
dominar pelos grupos políticos comandados pelos prefeitos que os impedem de
executar a função mais importante do legislativo: fiscalizar o executivo.
Na prática o que se vê é a maioria dos vereadores
se transformar em simples carimbadores dos desejos dos prefeitos, que os
seduzem com ofertas de empregos para seus apadrinhados e de serviços para suas
empresas. Para manter as suas mordomias, esse tipo de parlamentar vota como o
prefeito quer. E não importa qual o papel que desempenhava durante a campanha,
se de oposição ou situação, e muito menos como o seu eleitor vai avaliar este
comportamento submisso. Diante disso, justifica-se ou não a pergunta título
desse artigo?
Eu disse lá em cima que não sou o único que coloca
em dúvida a necessidade do vereador, levando-se em conta a conduta desprezível
desse servidor público - não concursado - no exercício da sua função. Muitos,
aliás, ignoram quais são as funções do cargo que ocupa. Não é por acaso que
tramita no Congresso Nacional uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), na
Comissão de Constituição e Justiça e Cidadania (CCJ), que defende o fim do
pagamento da remuneração de vereadores em municípios com até 50 mil habitantes.
Esta proposição deverá atingir cerca de 90% das câmaras municipais do país. Uma
baita economia. Além disso, a PEC limita o total da despesa das câmaras dessas
cidades a no máximo 3,5% da arrecadação municipal.
Eis aí uma bela bandeira de luta para as populações
dos pequenos municípios, onde por conta da omissão das suas casas legislativas,
a corrupção campeia e o impede de se desenvolver. A adoção dessa PEC causará
impactos positivos consideráveis, tendo em vista que 89,41% dos municípios
brasileiros possuem até 50 mil habitantes. E olha só que maravilha: os
legislativos desses municípios seriam compostos por cidadãos eleitos em razão
de sua condição cívica, de sua honorabilidade ou de sua capacidade
profissional. Considerando esses valores, o mandato deixaria de ser passaporte
para as falcatruas, pois o candidato que passar por este crivo, estaria apenas
comprometido com a ética, com o interesse público e com o desenvolvimento da
sua cidade.
Sem a pressão popular não será fácil a aprovação
dessa PEC no Congresso Nacional. E o pior é que o número de vereadores vai
aumentar nessas eleições de 2012, em razão de mudança constitucional, em 2009,
quando o Congresso Nacional ampliou o número de cadeiras nas Câmaras Municipais
da maioria dos municípios brasileiros. Serão eleitos mais 5.405 vereadores. E é
a sociedade brasileira que vai pagar esta conta astronômica e desnecessária.
Deixo no ar, outra pergunta: Será que vale a pena pagar tanto dinheiro para um
legislativo municipal tão inoperante e submisso?
No dia 07 de outubro a população vai às urnas para
eleger vereadores e prefeitos sem ainda perceber que a função pública para a
maioria dos candidatos virou uma profissão, um meio de vida. A representação
popular passou a ser um negócio vantajoso e altamente lucrativo, pois abre as
portas para negócios e negociatas. Por isso que muitos candidatos pagam pelo
voto que recebem.
Gastam fortunas, certos de que terão tudo de volta
e muito mais, em apenas quatro anos de mandato. O mais lamentável é que esse
tipo de candidato, quando eleito, conquista um mandato e, de quebra, o silêncio
do eleitor comprado.
Antes que eu me esqueça, segue a minha resposta à
pergunta título deste artigo. A função pública do vereador é, sim, importante
para a democracia e como representação popular. Porém, o vereador deixa de ser
útil à sociedade que representa, quando atua em defesa própria e adotando
práticas condenáveis como enriquecimento ilícito, ineficiência e desvio de
finalidades. Quando o vereador faz do cidadão vítima da sua esperteza, aos
olhos de quem pensa ele se transforma em um ser desprezível, inútil e, por
isso, não merece existir.
VOTO CONSCIENTE
Vou dedicar integralmente o espaço final desta
minha coluna ao voto consciente. Estamos na semana de mais uma eleição
municipal. Vamos às urnas para escolher vereadores e prefeitos dos mais de
cinco mil municípios brasileiros. Elegeremos representantes para o legislativo
e executivo das nossas cidades, que assumirão funções públicas da mais estreita
relação com a sociedade.
Portanto, o momento é oportuno para ressaltar a
importância do voto. Afinal, os eleitores vão escolher os servidores públicos
que vão administrar a sua cidade.
Mas será que o eleitor sabe realmente o valor de
seu voto? É triste constatar que a sociedade brasileira adota uma postura
condenável a respeito do exercício da cidadania quando se fala em eleições. Não
é comum o eleitor brasileiro procurar conhecer a fundo seus candidatos, seus
projetos e seu passado. Muitos acabam votando em qualquer um por julgar que
todos sejam iguais. Esta não é uma forma inteligente de fazer uma escolha.
Não é por erro de julgamento da população que a
classe política está desacreditada. Os políticos todos os dias nos surpreendem
com casos de corrupção; desvios de recursos e conduta, além de estarem sempre
colocando à prova sua idoneidade.
Mesmo diante dessas aberrações protagonizadas pelos
políticos, o eleitor continua não dando ao voto a importância que ele merece.
Muitos votam porque são obrigados e nem mesmo se lembram em quem votaram nas
últimas eleições. Confiando nessa irresponsabilidade e falta de memória do
eleitor, os políticos com fichas sujas sobrevivem.
O eleitor deve ter a consciência de que é através
do voto que se exerce a cidadania. O voto consciente faz, sim, a diferença. Na
solidão das urnas, o eleitor é o senhor da situação. É o patrão, selecionando
empregados para trabalhar no executivo e no legislativo da sua cidade. Mas a
missão do patrão não se encerra ao confirma o seu voto. O patrão tem que
acompanhar o desempenho dos seus empregados prefeitos, vereadores e ocupantes
de cargos comissionados do seu município.
Cobrar, com a autoridade de quem decide através do
voto, o cumprimento das promessas de campanha e se o trabalho dos empregados
públicos foi realizado de maneira honesta.
Estamos a seis dias das eleições, há tempo
ainda de saber um pouco mais sobre os candidatos. Você por acaso procurou saber
quais os projetos dos seus escolhidos? Pesquisou a respeito de suas vidas?
Convenceu-se de que eles têm competência para os
cargos que pretendem assumir? Interessou-lhe saber o que pensam as pessoas que
convivem com seu candidato a respeito de sua idoneidade?
O exercício de cidadania não se resume apenas ir às
urnas e votar. Sua importância é muito mais ampla. Ela se prolonga durante todo
o mandato do empregado público que você escolheu como seu representante no
executivo e no legislativo.
Se você quer viver em um município que ofereça
oportunidades e qualidade de vida para a sua gente, saiba que só o seu voto
consciente será capaz de realizar esse seu sonho. E para os eleitores da minha
cidade, Itatiaia, um recado: estas eleições são, sem dúvida, as mais
importantes da história da cidade. Está em jogo o futuro de um município que só
há pouco tempo começou a engatinhar, dar sinais de que de fato pode se
transformar em um município de verdade. Se o eleitor errar no alvo, tanto na
escolha dos seus empregados para Câmara de Vereadores quanto para a Prefeitura,
poderá, mais uma vez, comprometer o destino de município cheio de
possibilidades, mas que caminha a passos de cágado. Que prevaleça o bom senso!
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