O Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou a abertura de um inquérito para investigar o deputado estadual Paulo Melo, presidente da Assembleia Legislativa do Rio, e o deputado federal Alexandre dos Santos, suspeitos de enganarem eleitores de São Gonçalo, em 2010, para ganhar votos. De acordo com o inquérito, a que o EXTRA teve acesso, os dois peemedebistas teriam prometido, a uma semana da eleição, levar água encanada a uma rua do bairro Engenho Pequeno em troca do voto dos moradores.
Na ocasião, acreditando na promessa, vizinhos fizeram um mutirão e cavaram o buraco da obra. Passada a disputa, os dois se elegeram e nunca mais voltaram para cumprir a suposta promessa. Uma moradora denunciou o caso à 87 Zona Eleitoral da Comarca de São Gonçalo, que repassou ao Tribunal Regional Eleitoral.
Devido ao foro privilegiado de deputado federal, o caso foi remetido à Procuradoria-Geral da República, que instaurou um procedimento administrativo, convertido agora em inquérito. Eles estão sendo investigados por compra de voto.
Em fevereiro passado, ao autorizar a investigação, a ministra Cármen Lúcia acatou pedido do procurador-geral, Roberto Gurgel, e determinou à Polícia Federal que ouça a autora da denúncia e outros moradores da Rua Adélia Luísa do Couto, onde teria sido feita a promessa. A ministra também mandou o Setor Técnico-Pericial da Polícia Federal ir à rua para procurar vestígios da escavação para instalar o sistema de água. Essas diligências estão em curso.
Na última quinta-feira, o EXTRA localizou o antigo buraco, hoje tapado por terra, mas ainda destoando do cimento do restante da rua.
Procurados pelo EXTRA, os deputados afirmaram ainda não terem sido notificados judicialmente da abertura do inquérito. Os dois ainda não escolheram seus advogados. Por meio de sua assessoria, o presidente da Alerj disse que não vai comentar o inquérito até ser notificado. Santos negou que tenha feito a promessa:
- Não estive no Engenho Pequeno uma semana antes da eleição. Quem fez essa promessa deve ter falado em meu nome, sem minha autorização. Isso é um absurdo, até porque atrelar.
Torneira seca é saga de décadas na mesma rua
De tanto ouvirem promessas em tempos de campanha, os moradores da Rua Adélia Luísa do Couto já se acostumaram com o uso eleitoral do problema da falta de acesso à água. Benfeitorias em troca da simpatia do eleitorado são frequentes.
- Várias casas já recebem água por uma ligação providenciada pelo deputado. Basta procurar que vão encontrar ligações clandestinas, feitas a pedido do Paulo Melo - acusa um morador, pedindo anonimato.
Aos 37 anos, quase todos vividos na Rua Adélia, a diarista Marciane Ribeiro proibiu seus filhos de aceitarem placas de políticos:
- Não acredito mais em ninguém. Toda eleição, eles vêm, prometem tudo e nós nunca vemos nada.
A Rua Adélia se divide em uma parte plana e outra íngreme, trecho em que o acesso à água é mais precário. Nesta parte da rua, a água só chega de quarta-feira a sábado. Nos outros dias, seca. Segundo o aposentado Manuel Perdigão, de 66 anos, as torneiras costumam ficar secas por até duas semanas.
- O recorde foi de 42 dias, no verão passado, quando tivemos que contar com ajuda de pastor - diz Marciane.
Na saga para fugir da falta d’água, os moradores aproveitam até chuva. Carros-pipa, bombas d’água e poços artesianos também são velhos aliados. Há pelo menos 15 casas com bombas ligadas à rede da Cedae.
- Montamos a bomba sempre que pinga água. Mas tiramos à noite. Vai que roubam - diz Marciane.
Fonte:
Jornal Extra
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