sexta-feira, janeiro 27, 2012

Tenho mania de pensar. Penso o tempo todo, sobre o que me cerca, o que me afeta, aqueles com quem convivo, e às pessoas de um modo geral. A gente tende a escrever sobre as coisas que incomodam, pois já percebi que poucos comentam as coisas boas que acontecem ou que podem acontecer.

Então hoje vou escrever sobre coisas que me incomodam. Muitos pela manhã, abrem seus jornais e lêem mecânicamente as notícias, procurando só o que lhes interessa, ou para distrair um pouco enquanto o café lhes acorda, ou até para levantar barreiras e não conversar com os outros.

Eu costumo procurar as notícias para ter o que pensar, acompanhar o mundo, aplaudir aqui no meu canto, silenciosamente os heróis e vencedores, ou buscar palavras para trazer aqui temas de discussão e raciocínio, e porque não, mobilização das pessoas em direção de algo que pode mudar, pode melhorar.

Hoje por exemplo, vi algumas notícias sobre fatos que poderiam não ter acontecido. Por exemplo, os velhos edifícios na Cinelândia talvez não tivessem caído, se os responsáveis pelas obras do 1º deles, de 20 andares, tivessem pedido licença ao CREA-RJ. Ou, se pessoas que ali trabalhassem, ao ver um andar inteiro sem as pilastras de sustentação, e com constante sobrepeso de areia, entulho e outros pesos, achassem aquilo perigoso, e num ato de auto-preservação, desprendimento e cidadania, tivesse alertado outros, e todos tivessem denunciado o perigo da obra . Mas as pessoas como sempre, acham tudo normal, olhando sempre seus umbigos, “cada um na sua”, e como não querem ser julgadas,não julgam. E deu no que deu....

Passando algumas páginas do meu jornal matutino, vejo uma reportagem sobre um alemão preso por crime de tráfico internacional de mulheres. O que faz um ser humano ser incumbido de fazer “prova de sexo”, para ver quem será aprovada como prostituta na Europa? Por que uma mulher chega nesse ponto, pois as filas eram grandes. Isto é normal? Vai ter gente dizendo : “Ah, este emprego até eu queria”. Mas vamos pensar um pouco, estas mulheres vão ser vendidas, drogadas, exploradas, com certeza sofrer violências, muitas com sonho de melhorar a condição paupérrima da família. Poucas, por disturbios de conduta irão lá dizendo, “mas eu gosto”. Complicado, nem os animais admitem isto.

Logo adiante, tem a foto sorridente do sujeito responsável por aqueles implantes de silicone que terão de ser trocados. Como é que num país de 1º mundo, deixaram passar por tantos anos a exportação de uma prótese com silicone industrial.? Será que o produto era vendido no mercado interno francês, ou o serviço de Inspeção Sanitária lá é horrível, e daí poderemos começar a pensar que produtos importados não são tão maravilhosos assim não é mesmo? Quantas pessoas, ou por necessidade ou por vaidade, juntaram seus reais e investiram numa coisa que agora lhes ameaça a saúde? O nome do indivíduo é Jean Claude e tranquilamente afirmou à polícia que utilizava “conscientemente um gel sem autorização”. Mais interessante, que consegui me informar com alguns médicos, e me disseram que quase ninguem usava a PIP, que já havia a desconfiança, e que entre o meio de cirurgiões plásticos, com certeza eram outras marcas , várias vezes mais caras que eram utilizadas, e inclusive as nacionais hoje, por força de nossa fiscalização, são as mais seguras. Então......por que alguns outros ainda usavam estas tais PIP, consideradas mais baratas? Não estavam lidando com carros, mudando peças, mas com gente, pessoas!

Todos nós sabemos o quanto é árdua a caminhada para se transformar em médico(a). E sem dúvida alguma sabemos também, que quem se propõe a seguir esta profissão, tem de ter vocação, idealismo, dom, enfim, mesmo que seja natural, numa sociedade capitalista um médico(a) esperar retorno financeiro, o normal seria o ser – humano - predominar além da cobiça, por se tratar de um caminho eminentemente de doação, estudo contínuo e amor aos seus semelhantes.

O juramento de Hipócrates, que sela o compromisso daquele que se inicia no caminho do exercício da Medicina, em direção à Ética, Moral, e atuação em prol da Saúde e Bem Estar do homem, foi adaptado de acordo com a Declaração de Genebra da Associação Médica Mundial – 1948 , cuja versão em português ficou assim:

"Eu, solenemente, juro consagrar minha vida a serviço da Humanidade. Darei como reconhecimento a meus mestres, meu respeito e minha gratidão. Praticarei a minha profissão com consciência e dignidade. A saúde dos meus pacientes será a minha primeira preocupação. Respeitarei os segredos a mim confiados. Manterei, a todo custo, no máximo possível, a honra e a tradição da profissão médica. Meus colegas serão meus irmãos. Não permitirei que concepções religiosas, nacionais, raciais, partidárias ou sociais intervenham entre meu dever e meus pacientes.Manterei o mais alto respeito pela vida humana, desde sua concepção. Mesmo sob ameaça, não usarei meu conhecimento médico em princípios contrários às leis da natureza.Faço estas promessas, solene e livremente, pela minha própria honra."


Realmente ficou um adaptação muito boa, mas um tanto supérflua, se formos ler o juramento original. Porém, como bem disse o Dr. Dráuzio Varela, seria uma incoerência ler na íntegra o juramento de Hipócrates nos dias de hoje, pois muitas coisas estão completamente ultrapassadas, e mesmo assim, ecoam atitudes , como heranças destas palavras originais, que levavam o médico a não ter vida própria.

Ainda hoje existem os sistemas de plantões absurdamente longos. Será que ninguem questiona a capacidade de agir se um ser humano após 24 horas sem dormir, e muitas vezes ele sai de um plantão de 24 horas para mais uma jornada de 12 horas. É claro que ninguem aceita um erro nesta área médica, mas até justifica-se, que uma pessoa exausta, não consiga atuar plenamente, Isto são circuntâncias e fatalidades.

Na verdade, nos ambulatórios, em geral quem aguenta este “tranco” de plantões, são os mais jovens, recem-formados, cheios de ímpeto e idealismo. Quando se vê alguém desconhecido de mais idade neste serviço, por mais que não se queira ter pré-conceitos, fica lá no fundo um pensamento “puxa, será que esta pessoa realmente ainda consegue ficar 24, 36 horas acordada e atuante num plantão? Será que ela está cumprindo mesmo e será que dá conta? Por que será que ele ainda está no esquema de plantão e não em seu consultório particular ou em outra função mais adequada?”....

Massssssss.....outra coisa muito diferente é o exercício dúbio de um médico ou de uma equipe, esquecidos da nobre missão a que se entregaram, cegos pela obtenção fácil de bens materiais, com os corações endurecidos de tanto ver sangue e dor, e o pior, confiantes que existe uma máquina social que se bem azeitada e manipulada, pode lhes dar segurança pela vida afora, tornando-os imune a tudo até dos processos judiciais, e nem pensam se existe uma justiça Divina, pois passando por cima das técnicas apuradas e regulamentos, fazem as próprias regras, determinam as próprias decisões, mesmo arbritárias, descabidas e perigosas à vida dos pacientes. Por algum mecanismo de distorção de mente e personalidade, acho que começam a pensar ser o próprio Deus, com o dom da vida nas mãos. E como não são, volta e meia ceifam vidas, que entram nas suas estatísticas como erro do paciente.” Ah, ele morreu porque era fraco, porque a bactéria foi mais forte, ele já estava de alta, eu já não tinha nada a ver com isso, ele teve gases, não se expressou direito, chorava tanto que acabei não acreditando, quando examinei nada vi. Os exames estavam bons, não sei porque ele teve uma parada na anestesia. Sei que era risco alto, mas tudo correu bem na cirurgia........”. Será que estou falando sandices, afirmando balelas, só eu estou vendo isto, será que voces nunca viram uma coisas assim, nas páginas dos jornais, em comentários das mídias, em processos do Diário Oficial?

Eu acho que as pessoas deveriam ter sempre um clinico para lhe acompanhar o pré-operatório, e o pós- operatório. O cirurgião e o anestesista, em geral se preocupam com o trans. É claro que existem os grandes seres humanos cirurgiões, que ficam junto aos seus pacientes até terem realmente certeza que tudo está bem, mas no meu humilde ponto de vista, quem está mais apto a acompanhar os problemas de risco cirúrgico, principalmente metabólico e as complicações pós operatórias é um clinico, é um socorrista, que aí sim alerta o cirurgião na hipótese de ter de reoperar. O próprio anestesista, que está ao pé da cama do paciente assim que ele volta a si, com a mão estendida para seu cheque, já que ele quer o dele na hora e o paciente que lute para ressarcir a quantia depois, junto ao seu plano de saúde, deveria fazer algumas visitas ou incumbir alguém com possibilidades de problemas pós operatórios. Deveriam existir EQUIPES e não vejo isto acontecer, com claro, honrosas exceções. A maioria na verdade é uma torre de Babel, onde os enfermeiros e assistentes de enfermagem é que conseguem ver problemas e alertar, ou os familiares, ou o pobre paciente consegue se expressar e ser ouvido, ou é a graça de Deus que os ajuda a se recuperar antes de uma infecção hospitalar.

Mas o que é realmente inaceitável, de um lado e de outro, são pessoas que burlam as leis, de um lado, um paciente corrompendo o médico para uma cirurgia não autorizada, por exemplo, um paciente que não é obeso mórbido, querendo uma cirurgia bariátrica e de outro um cirurgião que passa por cima do regulamento e faz a vontade do paciente. A sociedade precisa de leis e regras, quando cada um faz o que dá na telha, tudo se torna dificil de fiscalizar, de ver onde está o erro , os limites morais e de segurança são ultrapassados, e fica impossível atuar dentro de um sistema totalmente indisciplinado. O pior, e eu nem sei mais o que é pior, são os organismos reguladores fazerem vista grossa, e manterem em seus quadros médicos, mesmo depois de proibidos de atuar na especialidade, comprovadamente causadores de mortes que podem ser consideradas criminosas, por estarem tão distantes das normas de segurança.

Vamos continuar com o exemplo acima, do caso de morte de um paciente que não era obeso mórbido, quis se operar, “arranjou” documentos falsos como se a cirurgia fõsse indicada e acabou morto por disturbios pós operatórios. Para poder fazer uma cirurgia bariátrica, o cirurgião precisa fazer parte da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariática e Metabólica. Sua legistação conta apenas de uma portaria de 2007 e uma resolução de 2010, embora ela exista desde 1999. (Portaria SAS/MS 492/2007 e Resolução CFM 1.942/2010).

Opa, então, quem se operou entre 1999 e 2007, estava sendo submetido a cirurgias experimentais? Sabia disso, será que assinava termos de responsabilidade por estar sendo submetido a procedimentos onde ainda não havia legislação ? Será que esse é o motivo, para que erros médicos com óbitos, realizados neste período não sejam enquadrados como imperícia, nem punido o responsável, e assim mantido em seus quadros?

E o CREMERJ, que protege muito bem seus corregilionários, mas quem protegerá a Sociedade dos maus médicos, que tripudiam de seus juramentos e ficam ilesos, passando por processos, secretarias e uma série de degraus que deveriam filtrá-los e bani-los e não o fazem muito pelo contrário, continuam lhe fornecendo empregos?

Eu lhes trago pensamentos, porque acredito numa sociedade melhor e mais justa.

Reflitam, por favor.




Até quando?



Alex Hudson
Rio Bonito - RJ

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"Projetar Brasília para os políticos que vocês colocaram lá,
foi como criar um lindo vaso de flores
para vocês usarem como pinico.
Hoje eu vejo, tristemente,
que Brasília nunca deveria ter
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e sim de Camburão...”.

A.D.



Tão lindas eram suas MATAS
Tão verdes eram seus montes
Tão límpidas eram suas aguas
Tão pacifico era seu povo
Hoje é apenas um arremedo do que foi ontem
O tal progresso insiste em exterminar tudo o que um dia foi bom, gostaria de lhe preservar aos meus olhos
Sobrou apenas a lembrança do que você já foi MINHA AMADA RIO BONITO.

Alex Hudson
(27/11/2011)