terça-feira, janeiro 10, 2012

Muita gente está querendo acabar com os pobres micos, que não possuem estirpe como o mico leão dourado. Mas há muito a saber sobre eles. Na verdade, os Callithrix jacchus e Callithrix penicillata, conhecidos como sagui de tufo preto e sagui de tufo branco, respectivamente, ou ainda sagui do cerrado e sagui do nordeste, estão na nossa região desde antes do grande projeto de proteção do mico leão dourado (Leontopithecus rosalia) , ameaçado de extinção. Na verdade, o Callithrix penicillata está há tanto tempo nas matas no Estado do Rio de Janeiro que alguns pesquisadores consideram uma espécie endêmica ( já fazendo parte) daqui.

Há muita gente estudando a respeito, médicos veterinários, biólogos e ambientalitas daqui e de outras partes do mundo, visando soluções eficazes e dentro das normais (rígidas) de Bem Estar Animal. Ações múltiplas tem sido mobilizadas, e estes pequenos primatas, originários do Cerrado e da Mata Atlântica nordestina, têm sido removidos das áreas de proteção ambiental por cientistas da Uerj, juntamente com o Inea e apoio da Save Brasil (BirdLife International). O IBAMA, UENF e mesmo organismos internacionais estão mobilizados na construção de soluções.







No entanto, a atual presença destes saguis, misturados aos mico leão dourado, foi por interferência antrópica, anos antes mesmo da Associação Mico Leão Dourado existir. Antrópica porque foi pela mão do próprio homem que estes saguis vieram parar aqui. Foi realizado um estudo retrospectivo e em vários momentos nas décadas de 60, 70, 80 e ainda em 90, estes animais, vindos de suas matas de origem, foram transferidos para as matas próximas a Silva jardim, por fazendeiros que simpatizaram com as espécies, com o próprio IBAMA e Polícia Militar que soltavam grupos de saguis apreendidos irregularmente. Pelas barreiras geográficas, dificilmente eles teriam atingido esta região apenas por uma expansão natural da espécie.

Por outro lado as populações de saguis, em seus ambientes naturais, têm sofrido drásticas reduções, em consequência da destruição de seus hábitats originais. Alguns alegam que os saguis-de-tufo-preto têm alto potencial de dispersão natural, e deste modo, pela destruição crescente do ecossistema do cerrado, podem estar naturalmente migrando para regiões de Mata Atlântica no sudeste e sul do país.

Um outro agravo observado pelos pesquisadores, é que o mico leão dourado, por ser bastante frágil, na luta por sua conservação, foi alimentado artificialmente, pois a mata nativa não lhe dava substrato sugiciente para sobrevida e reprodução adequados à perpetuação da espécie. Como já existiam os saguis por ali, naturalmente eles tambem foram beneficiados, e genéticamente são espécies mais prolíferas e resistentes. Culpa deles? Não, mais uma vez a interferência humana no meio silvestre provocou um desequilíbrio, desfavorável ao mico leão dourado.

Atualmente não é mais possível apenas capturar os saguis e devolvê-los aos seus ecossistemas originários. Pois as espécies se misturaram, hoje a maioria da população das matas de nosso entorno são híbridas, já pertencem a lugar nenhum, e não sobreviveriam em agrupamentos silvestres naturais nem do cerrado nem da Bahia. Eutanasiar estes animais está fora de cogitação, pois são animais pertencentes a nossa fauna, e pela declaração Universal do direito dos Animais, têm direito à vida, tanto quanto qualquer outro.

Trazemos aqui algumas informações sobre o Callithrix, mas antes de tudo lembramos que são espécies bem brasileiras, num país que comporta a maior biodiversidade do mundo. Saguis são basicamente frugívoros e insetívoros, privilegiando o consumo de goma (na verdade sua alimentação principal é a goma, espécie de seiva das árvores) e podendo ocupar nichos alimentares diferentes dependendo da importância relativa de cada item na dieta. Isto significa, que eles se alimentam primeiramente de insetos e frutas na natureza. Não é verdade que eles se alimentam exclusivamente de ovos de pássaros como acusam. Eles só vão utilizar este recurso se estiverem com muita fome. Não é conveniente tambem alimentá-los artificialmente com frutas, pois irão atrai-los para a cidade.

Eles formam grupos bem fechados, onde apenas uma fêmea, no máximo duas, se reproduz, mas o interessante que a tarefa de criação dos filhotes é dividida por todos.

Formou-se então o “Comitê Nacional para Conservação e manejo dos Calitriquídeos da Mata Atlântica” e a solução está no controle das populações, já que eles vivem em grupos, e não aceitam introdução de indivíduos isolados. São necessárias campanhas de educação ambiental, para que leigos não alimentem os animais silvestres, nem coloquem saguis ou outros animais não nativos nas matas.

Tambem estão sendo estudados meios de controle populacional com métodos de esterelização, seja por cirurgia (castração dos machos), seja por implantes hormonais nas fêmeas. Grupos que estão ameaçando de forma urgente a sobrevivência dos grupos de mico leão dourado, estão sendo capturados e levados para outras áreas, onde não provocarão danos ambientais.

Hoje em dia, o próprio Ministério do Meio Ambiente, dentro da regulamentação do Sistema Nacional de unidades de Conservação (SNUC), focaliza a importância da preservação da biodiversidade. Sobre a Política Nacional dos Recursos Hídricos, a contribuição se dá através da participação no Consórcio Intermunicipal da Região dos Lagos e bacias dos rios São João, Una e Ostras, composto por instituições governamentais (Estado e Municípios), empresas e sociedade civil organizada. Atua também junto ao Comitê da bacia do rio São João.


Participam também Conselhos Gestores de Unidades de Conservação - Reservas Biológicas de Poço das Antas e União, APA da bacia do rio São João e Parque Estadual dos Tres Picos; além dos Conselhos Municipais de Meio Ambiente, Desenvolvimento Rural, Turismo e Educação na sua região de atuação, contribuindo para a definição e implementação de políticas locais de gestão ambiental e de educação.


Internacionalmente, a Associação do Mico Leão Dourado- AMLD, está representada no Comitê Internacional para Conservação de Leontopithecus, responsável pela formulação de estratégias globais de proteção das 4 espécies do gênero, do Comitê de Conservação e Manejo de Callithrix e do grupo de especialistas em primatas da IUCN.

Portanto, o assunto é da alçada de especialistas, que estão cuidando do assunto. É certo não colocar alimento como frutas que possam atraí-los, e quem tem pássaros deve mantê-los protegidos, lembrando que existem muitos predadores urbanos, como gambás, ratos e ratazanas, lagartos e mesmo cobras. O próprio homem quebrou a cadeia do equilíbrio de ecossistemas, pois não se vê as corujas, os gaviões.

Vejam um parágrafo de uma pesquisa feita em um parque onde ocorreu a presença de Callithris, e queriam saber se eles eram realmente os responsáveis pela predação de ovos. Este trabalho é parte de uma monografia para obtenção de graduação em Faculdade de Biologia:

”Santos (2001) realizou um experimento com ninhos artificiais, para avaliar o possível papel dos saguis na diminuição da avifauna da Ilha de Santa Catarina; a taxa de predação de ovos na área sem registro de ocorrência de saguis foi maior que nas áreas com baixa e alta densidades (87,5% contra 75%). O estudo também revelou a visita aos ninhos de marsupiais de pequeno porte, roedores e possíveis predadores maiores como Procyon sp. (mão-pelada) e Didelphis sp. (gambá), sugerindo que um conjunto de espécies pode atuar na predação de ovos de aves, e não somente os saguis serem os grandes responsáveis pelo fato. ”
(Elaine Mitie Nakamura,2009)

Não é correto matar os saguis, antipatizando-os indiscriminadamente. Eles são animais de nossa fauna, foram aqui depositados pelo homem, e têm direito às vida como qualquer ser vivo. Medidas de controle populacional estão sendo tomadas, dentro da Ètica, das Leis de Bem Estar e Biossegurança.


Alex Hudson
Rio Bonito – RJ


FONTE CONSULTADA:

Livro: Conservação do Mico-Leão-Dourado
Paula Procópio de Oliveira, Adriana Daudt Grativol e Carlos Ramon Ruiz Miranda (Orgs.)

Livro: Pequenas e Poderosas
Denise Marçal Rambaldi e Paula Procópio de Oliveira

ICMBio

Associação Mico-Leão-Dourado

Monografia: CONVÍVIO ENTRE SAGUIS E PESSOAS:EXPERIÊNCIAS NO PARQUE ECOLÓGICO DO CÓRREGO GRANDE E ENTORNO, FLORIANÓPOLIS - SC.


Fotos:

Wikimedia

Instituto Guará

Google Imagens

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"Projetar Brasília para os políticos que vocês colocaram lá,
foi como criar um lindo vaso de flores
para vocês usarem como pinico.
Hoje eu vejo, tristemente,
que Brasília nunca deveria ter
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e sim de Camburão...”.

A.D.



Tão lindas eram suas MATAS
Tão verdes eram seus montes
Tão límpidas eram suas aguas
Tão pacifico era seu povo
Hoje é apenas um arremedo do que foi ontem
O tal progresso insiste em exterminar tudo o que um dia foi bom, gostaria de lhe preservar aos meus olhos
Sobrou apenas a lembrança do que você já foi MINHA AMADA RIO BONITO.

Alex Hudson
(27/11/2011)