terça-feira, julho 30, 2013



  Estando meio desgostoso com algumas coisas de nossa cidade, andei  procurando saber a respeito da importância e o funcionamento dos  meios de comunicação. Encontrei  um cientista político norte-americano chamado Harold Laswell, que  resumiu as funções dos meios de comunicação da seguinte forma:

1- vigilância do contexto;
2- correlação social;
3-  transmissão cultural;
4- socialização e entretenimento

A vigilância do contexto significa que os meios de comunicação de massa servem como sentinela para os indivíduos, alertando-os sobre os fatos que se sucedem ao seu redor., como se fosse  a janela do mundo. Esta função tem papel importante ( ou deveria ter), que é a de moralizar, reforçar as normas sociais existentes em cada indivíduo, e por cima, adverte-os do perigo que seu grupo social pode sofrer, desde a possibilidade de uma guerra, a queda da moeda, ou fatores externos que interferem no dia a dia.

A atividade da correlação com o contexto social representa a propagação das opiniões do povo sobre os fatos ocorridos no contexto. Expressa-se por meio dos editoriais dos jornais ou nos programas de opinião pública do rádio, televisão, e agora o facebook, twitter, etc. Teoricamente, isto proporcionaria uma espécie de mesa redonda na qual todos os seus integrantes teriam a possibilidade de debater os assuntos públicos, até mesmo poder alterá-los.

A função de transmissão cultural, seria a de preservar o legado cultural da sociedade. Anteriormente este era transmitido pelos pais, ou membros mais velhos da comunidade, através da palavra. Hoje as pessoas se calam diante de um aparelho de televisão, aprendem o que nunca viveram, muito menos seus antecedentes. Como bem cita Harold Laswell, “não conseguem transmitir aos filhos sua carga cultural no simples contar de história, visto que para eles, a televisão tem muita coisa bem melhor para ensinar, e os pais ficam na cômoda posição de não se responsabilizarem em contá-las”.

Já a socialização é uma consequência do fator cultural, e os membros de uma coletividade aprendem os modelos de sua sociedade, assimilando e convertendo em suas próprias regras pessoais de vida. De acordo com Laswell não tem tomado uma direção correta, já que “os meios de comunicação geralmente cumprem seu processo de socialização, de maneira não formal, mas, por intermédio da promoção de valores e de sistemas de vida na programação, especialmente na área de entretenimento, que corresponde a disseminação da ideologia das elites do poder, em detrimento e, até ferindo os valores da própria sociedade”.

Bom, então vamos lá, em fazer algumas observações sobre nossa cidade, que é o que me interessa. Temos tido de uma forma integral a “Vigilância no contexto”? Todos em Rio Bonito tem tido o mesmo acesso às coisas que estão acontecendo, os meios de comunicação participam de um verdadeiro processo de inclusão?  Dentro da vigência de uma democracia que somos, os que são da situação e os da oposição estão tendo iguais direitos de divulgar seus serviços, conseguir suas prerrogativas, denunciar suas demandas, falar  sobre suas necessidades?

 Quanto ao contexto social, posso dizer que sim, expresso bastante e com frequência o que acho justo e injusto, certo e errado, critico e elogio, de acordo com meu consenso, mas quantas e quantas vezes ocorrem bloqueios a minha opinião, me chamam de louco, temerário, muitas vezes com jeito de camaradagem, outras explicitamente. A necessidade de participação de cada um no contexto social tem sido muitas vezes solicitada nestes últimos meses em nossa cidade. Mas isso deve vir como consequência de uma verdadeira reflexão, e não um observar de cima dos muros, não algo que faça alguém sair da rotina, mas sim que seja o eco de seu ideal, assumido com responsabilidade, para instrumentalizar junto com outros, mudanças que sejam realmente benéficas, a longo prazo para a comunidade. Vamos parar um pouco de olhar somente o hoje, o amanhã está aí também e será fruto do que foi plantado no hoje! E ultimamente, como na antiga parábola, parece que as boas sementes andam caindo só entre as pedras e os espinhos..., não sobrando muitas sementes para a terra fértil...

E vejamos aos quesitos “transmissão cultural”, “sociabilização” e “entretenimento”. O que se tem feito pela preservação da cultura de nossa cidade? Acham uma beleza o asfaltamento das ruas do centro. Dizem :“Vejam que beleza, fica parecido com as cidades grandes!” “Estamos progredindo!” . E os músicos, os porta vozes da arte de nossa cidade, quem tem  aplaudido? Quem tem apoiado as minhocas da terra, aqueles que trazem a nossa história, antes que os jovens  fiquem totalmente desmemoriados?  Quem tem apoiado os artistas que vão às ruas, em projetos sociais para resgatar os jovens das ruas, aqueles, que não têm acesso à “vigilância do contexto” , nem direito à “correlação social”, nem muito menos conseguem chegar às mãos estendidas de quem tenta ajudá-los, mas isto se torna impossível sem apoio da mídia local e do governo atuante....

E assim, sem acesso, sem memória e sem poder crítico, a juventude vai ao passo da dança. Agora, esta semana tem sido boa, o Papa nunca foi tão Pop, e ele tem sido uma influência magnífica.   Mas ele irá embora, e a mídia  focará novamente  na despersonalização, na moda que vigora do Oiapoque ao Chuí, seja lá o que for a do momento, cabelos alisados ou cacheados, roupa assim ou assado, tudo igual. Cadê a cultura local? Cadê o folclore? Cadê  a história de um povo? E está errado tentar ser diferente, falar que é legal abraçar os artistas da terra com suas peculiares regionais, valorizá-los? Vamos supor que um de vocês vá à Europa e lá perguntam: “ Como é a sua cidade? Quais os costumes, quais os projetos sociais, o que se tem feito de preservação ambiental e cultural? Como é a publicidade para o turismo local, o que você acha que vou encontrar lá de bom se for visitar?”  Sim, amigos e amigas, o que vocês responderiam, e digo mais, o que vocês estão fazendo para saber estas respostas?  E mais, o que vocês estão fazendo para dar sustentabilidade a estas respostas?
Na revista “Isto é”, há uma entrevista com o grande poeta Ferreira Gullar onde lhe perguntam:

Isto É – “ A tecnologia o surpreende? A forma como a sociedade está dependente do fluxo veloz de informação não é espantosa?”

Ferreira Gullar – “Fico até preocupado com o que pode acontecer com essa quantidade de informação sem controle. Essas passeatas têm causas reais na sociedade, mas elas não se realizariam, no grau de mobilização que tiveram, se não fossem as mídias sociais. Então, sob esse aspecto, é positivo, as pessoas se mobilizam. Mas na rede não só tem grande quantidade de informação como também há muita informação falsa. Aliás, eu não preciso de tanta informação. È pior, a informação necessária muitas vezes não é difundida na escala que deveria, e a desnecessária é a que toma conta de tudo.”
Isto É – “Acredita que vamos desembocar em um país melhor?”

Ferreira Gullar – Sim. A história não caminha linearmente. Tem idas e vindas, avanços e recuos, mas de maneira geral avança. Claro que é a educação, a cultura, isso é que vai melhorando. Quanto mais atrasado o país, melhor para os picaretas. A vida é inventada. Então, cabe a nós inventar uma melhor.”

A ideologia e o romantismo agora parecem ser defeitos. Tentam condenar à invisibilidade a opinião firme e inalienável, a coragem de se opor. É difícil prosseguir, mas eu prossigo, afirmando que se tem de manter os ouvidos de ouvir, os olhos de ver, ponderar cada palavra antes de abraçar bandeiras que não são próprias.

Cuidado com o proselitismo bem arrumadinho, de boa aparência. Certifique-se que as palavras sejam boas, mas que elas apontem enriquecimento pessoal e social de todos, sem exceção. O mundo é desigual? Imensamente, e sabendo disso, não poderemos lutar por melhorias para todos? Vamos tolerar esta vidinha mais ou menos, este estado de coisas onde temos aplaudir obras que não pedimos, onde não vigora um trabalho de inclusão socioeconômica, pouco do plano de governo pré eleitoral, e tudo parece meio improvisado, meio que no “vai da valsa”?

Estes que andam aplaudindo nas mídias o progresso do atual governo, poderiam então, ao final do primeiro semestre de governo, fazer um relatório comparativo das obras prometidas e das realizações concluídas até então. Algo bem cartesiano, lógico e assertivo, com gráficos, dados estatísticos, conclusões e probabilidades. Isto daria bastante clareza e visibilidade, principalmente credibilidade a quem assumir esta tarefa da situação do governo, não acham uma boa ideia?

Alex Hudson
Rio Bonito - RJ

Fonte consultada:
Revista Isto É
2279, 24/07/2013


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"Projetar Brasília para os políticos que vocês colocaram lá,
foi como criar um lindo vaso de flores
para vocês usarem como pinico.
Hoje eu vejo, tristemente,
que Brasília nunca deveria ter
sido projetada em forma de Avião
e sim de Camburão...”.

A.D.



Tão lindas eram suas MATAS
Tão verdes eram seus montes
Tão límpidas eram suas aguas
Tão pacifico era seu povo
Hoje é apenas um arremedo do que foi ontem
O tal progresso insiste em exterminar tudo o que um dia foi bom, gostaria de lhe preservar aos meus olhos
Sobrou apenas a lembrança do que você já foi MINHA AMADA RIO BONITO.

Alex Hudson
(27/11/2011)